Veio até mim

Um poeta do vão do MASP chegou até mim e disse: “página 11”.
Abri o livro, li e comprei.
Há encontros e nos resta pontecializá-los quando acontecem.
Recebê-los, acariciá-los, amá-los.
Se vieram é por que podemos fluir.

No mais, é preciso estar atento, firme e forte.

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VIR-A-SER

É PRECISO DANÇAR SOBRE OS
ABISMOS
RIR DE TUDO E DE TODOS
SUPERAR O AQUI E O AGORA
SER UMA PONTE E JAMAIS UM FIM
CONVIVER COM INCERTEZAS
DESCONFIAR, DESCONFIAR
DESCONFIAR
TUDO É PASSÍVEL DE
QUESTIONAMENTO
VALORES, CONCEITOS E PRECEITOS
O EQUILÍBRIO E A LOUCURA
OS SENTIMENTOS MAIS DIGNOS
A CI~ENCIA, A HISTÓRIA E A RELIGIÃO
NADA, ABSOLUTAMENTE, NADA
PODE SER CONSIDERADO
DEFINITIVO
CONCLUIR É ATROFIAR, ESTAGNAR,
MORRER….

IVAN PETROVITCH

Entre

A vida!
Seria melhor começar a dizendo?
A minha grande pergunta é como lidar com tudo isso?

Como transitar por estas questões eternas?

Uma coisa me disseram: Ninguém vai conseguir entender o que você está passando a não ser você mesma.

Estou num estado muito íntimo de mim mesma. Uma felicidade latente. Sem precedentes.

Nas minhas palavras repetidas, reintero, presentifico algo que aqui está marinando em meu ser. Pegando gosto. Ou na estufa para se fortificar e então enfrentar as tormentas do tempo.

Não sei se há um tempo certo para se fortificar, mas todos os sofrimentos são bons aliados, se assim olhamos para eles.

Há dimensões

No entanto, somos seres históricos.
Temos nossa historicidade marcada a ferro e fogo pelo tempo e espaço em nossa carne.

Nós de ontem
Nós de hoje
Nós de amanhã

Vivemos tão românticos que a todo custo queremos presentificar, enraizar no presente, no agora, no size the day, no carpem diem

Uma armadilha contemporânea, uma repetição na espiral da humanidade..

Há que chegar a escassez
Assim assumimos nosso passado e cuidamos de nossos sonhos sem nos desconectar deste presente.

A internet nos ensina a viver neste limiar digital e corpóreo…
No mundo do possivel e das impossibilidades…
Na organicidade do meio, dos seres e das conexões possíveis…

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Maturidade

Há uma energia apaziguadora no olhar de quem sabe
Saber é um vácuo de silêncio do qual não se precisa muitas palavras
Na verdade, não necessita de nenhuma palavra

Palavra é necessidade e busca
O silêncio é conquista, o que somos

O corpo está vivo, alerta e atuante
Antes de concebermos bem a ideia de que,
ele já a captou e digeriu.

Temos, aliás, somos seres já prontos
Em constantes descobertas
Em constantes descobrimentos de nós mesmos

O nosso vale penetra pelos espaços-tempos
Deslizamos no universo circundante

Escolhemos e descartamos
Pelas ideias e pelos movimentos

Na conexão do entre céu e terra,
geramos a existência.

Filhos do tempo,
filhos do misterioso Tempo.

Ali na frente não se sabe,
A utopia nos faz mover, nos faz caminhar…
o que passou nos fez.

Nós seguimos tecidos,
Remendados, marcados e humanos.

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Tente

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Aos controladores
Bom dia a você que não consegue confiar no mundo e nas pessoas. Bom dia a você que vive com medo de ser assaltado, corrompido e desviado. Um lindo dia a você que olha o pobre e se compadece, como se livrando do seu peso e sua medida. Um dia bom pra você que nasceu no conforto, em berço esplêndido e agora adoece por ter crescido e ultrapassado as gradinhas da infância abastada.
Bom dia!
Saibam que vivem em eterna ilusão. E que dificilmente vão conseguir sair dessa condição: nunca vão rir exageradamente ou gritar com raiva sã. O incômodo cotidiano ou encanto turístico que sentem com aqueles que não atingiram o seu patamar brilhante é por conta da vida que há nestes exagerados. À vocês sobraram as ferramentas, as estratégias, os chás, os cheirinhos. À vocês ficaram as drogas, as lamas medicinais e as vinícolas de boa safra.
Caros, vocês esperam que o rótulo lhe diga que é bom. Vocês não habitam este mundo. Vocês vivem no oco do pensamento. Não há ânimo, nem festa de olhos e abraços.
Não há vida, não há braços, não há desmedidas….
Vagantes no mundo, e apenas isso. Gozem, e amanhã de manhã busquem o que fazer. Já já chegará o fim….
Bom dia!

Galeano e Chagal

“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”

Eduardo Galeano- citando Fernando Birri

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“Vivemos em plena cultura da aparência: o contrato de casamento importa mais que o amor, o funeral mais que o morto, as roupas mais do que o corpo e a missa mais do que Deus.”

Eduardo Galeano

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“Assovia o vento dentro de mim.
Estou despido. Dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a contravento, e sou o vento que bate em minha cara.”

Eduardo Galeano

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“Na luta do bem contra o mal, é sempre o povo que morre.”

Eduardo Galeano

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“Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem. Ou seja: Ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca.”

Eduardo Galeano

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“Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador.”

Eduardo Galeano

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“Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.”

Eduardo Galeano

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“Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras. Se pudesse, diria a ela que fosse embora; mas tenho uma mulher atravessada em minha garganta.”

Eduardo Galeano

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Montagem da idéia: http://www.contioutra.com/alem-convencional-textos-de-eduardo-galeano-e-obras-de-marc-chagall/

Lágrima

A iluminação veio quando cuspi a serpente que apossava o meu corpo.
A verdade não é importante
O importante é o que me dá paz
E o que me tira a paz

A pergunta que me libertaria estava serpentiando por minhas veias.

Passado a neblina das angustias,
organizadas as torrentes
o que era preciso veio a tona

Depois da tempestade
A bonança!

Como sempre:
A natureza é a melhor sabedoria que se pode consultar

Atirar o coração peito afora é bonito e romântico
mas voltar pra dentro, alinhar as veias e artérias
fazem o sangue circular melhor
com mais vitalidade

A coluna se ajusta,
estava torta
o passo, descompassado

O quadril retorna ao berço do sagrado
O feminino está aqui dentro,
Há um lugar onde posso ser livre

Aqui dentro, ajustado
Espalhado no meu laboratório alquímico

Na minha alquimia existencial de experimentar os espaços e tempos

A minha arte inspira
Inspiro para dentro, inflo os pulmões…cabendo somente até onde alcanço
expiro para fora, libero as sobras

Minha liberdade não a troco por nada
Novamente
A fenix

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Silêncio

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“Só o silêncio é que vale para sempre, o silêncio, Bia, era a nossa língua oficial, pelo silêncio podíamos dizer tudo com exatidão, sem o risco de não sermos compreendidos, mas, em alguma época ancestral, deu-se a queda, tentamos experimentar o máximo do silêncio e, então, caímos, voltamos ao degrau anterior – as palavras -, por isso o abismo está nos extremos dos nossos sentidos, jamais no centro, o sol, se estiver lá longe, nós nem o notaremos, mas o sol, de perto, nos cegará; o sussurro mal pode ser ouvido, assim como o trovão que nos unsurdece; nós vivemos pouco, quase nada, no núcleo dos eventos, Bia, nós vivemos o tempo todo à beira: o silêncio é a nossa linguagem, por gerações e gerações nos ensinaram a falar quando estávamos no pleno entendimento desse idioma, e, então, passamos a usar as palavras, para traduzir o que é ou foi melhor dito silenciosamente, e não há como transferir uma frase, uma sentença, um poema de uma língua para outra sem perder algo vital de sua substância, uma metáfora só é uma metáfora porque dis o que não se pode dizer de outra maneira, é a tentativa de driblar o incomunicável, e seria tão mais fácil se pudéssemos – de novo – nos movermos sobre a linha do silêncio, o silêncio, Bia, como se de volta ao paraíso, nos redimiria, nós deveríamos aprender os seus sentidos antes da palavra; se eu pudesse, eu te ensinava todo o abecedário do silêncio antes da fala, eu desaprenderia a falar e adotaria como língua todo o (meu) humano silenciar; se eu conseguisse reaprender, contra séculos de condicionamento linguístico, a me expressar nesse idioma, eu não precisaria escrever este caderno, eu apenas me aproximaria, como agora, de teu berço, me debruçaria à tua frente, e não diria nada, e aí, eu tneho certeza, tu não irias ler apenas o meu rosto, tu irias ler o que o silêncio significa no meu rosto, foi através do silêncio que eu soube de tua vinda, eu cheguei em casa exausto aquela noite e, mal abri a porta, a tua mãe, que me esperava cochilando no sofá, ergueu-se lentamente, e eu soube que ela estava grávida, porque tudo o mais era quietude, não era preciso dizer o que nela estava dito –  em silêncio, Bia, pode-se claramente se uma mulher carrega um filho, mesmo que o seu ventre não o diga; pode-se inclusive ver se esse filho terá cabelos lisos ou não, pode-se até ver o quanto de tempo sua vida, ainda em fabricação, suportará; em silêncio, pode-se ouvir, na zona fronteiriça entre o ontem e o hoje, o motor do acaso movendo a manhã, também foi assim, num momento sem som, que, entrando no quarto de tua avó, anos atrás, eu soube que teu avô André estava morrendo; é no silêncio que um corpo clama pelo outro; só a máxima quietude em nós e na natureza nos permite decifrar o texto que está escrito, Bia, o silêncio, embora pareça a ausência, eu te asseguro, é a presença em sua forma mais vívida, toda e qualquer palavra é menos que o silêncio, porque nasceu dele, do útero do silêncio vem o murmúrio, o gemido, o grito, o urro, todos os outros dialetos ea té a babel das páginas em branco, se eu falo, se eu escrevo, Bia, é porque eu não sei, ninguém sabe, como evitar a degradação do silêncio; e no silêncio foi que tive a certeza, ao ver aquela professora substituta, que não era ela, mas seria ela, que eu gastaria a minha vida, não à primeira vista, e, sim, depois de fechar os olhos para o que havia ao redor, extraindo de seu redor tudo o que não era ela; é no silêncio que se pede perdão, Bia, é no silêncio que poder descobrir nas tuas entranhas as minhas fragilidades, é nele, no silêncio, que o nada se exalta, e a súplica se renova, e a opressão se dissolve, é no silêncio, Bia, que a memória resume as horas vividasa, é no silêncio que o rio nos salpica o rosto com suas gotas, é no mais depurado silêncio que se irriga os vazios, o silêncio, Bia, é que faz mais belo o luar, quietas são as carícias, as cores que calam na plumagem dos pássaros, as marcas na pele (embora abaixo dela a usina da vida continue a rugir sem cessar), é o silêncio que sempre sobra depois que a porta se fechou, é no silêncio que se mutilam as mentiras, que as cicatrizes se mostram, é no silêncio que tu sentistes o mundo pela primeira vez antes que a mão do médico estalasse em tuas costas para que vomitasse o grito, é no silêncio que eu te inicio não no mundo, num caminho espiritual ou numa crença, é no silêncio que eu te inicio num saber esotérico milenar, em jogos de ironia, em teoremas insolúveis, não, é no silêncio, Bia, que eu te inicio em mim – pisar no meu silêncio é o teu primeiro passo pra me conhecer -, é no silêncio, filha, que eu te inicio em quem tu terás – logo – de assistir o fim.”

Caderno de um ausente
João Anzanello Carrascoza

Não mexe comigo, que eu não ando só

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Cada dia que passa me sinto mais só.
Não importa!
Não sei se isso é triste ou melancólico.
Esta constatação me persegue,
e está sempre a espreita.
Vira e mexe, normalmente, quando se abre aquele vácuo do indefinido, zap, ela me arrebata.

Esta imagem me é muito certa.
E normalmente me ocorre nesses momentos de solidão…
Talvez seja isso mesmo.
Um olhar solitário para a imensidão
e um lugar vago, aqui ao lado, para quem quiser vir se arriscar a olhar junto comigo.

O despertar

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Da cama nada senti
foi um despertar de quem foi roubado
ou de quem roubou

não consigo definir as linhas certas
ou tracejar o futuro
ou, até mesmo, achar as explicações coerentes.

A incoerência que compreendo e aceito de mim mesma
O mim que é turbilhão
Que não está só…

A verdadeira predestinação é a felicidade.

Só se vive para isso
Ser feliz

Mesmo que incoerentes, loucos e vadios
Mesmo que equilibristas na corda bamba

E nessa corda bamba?
será mesmo que podemos ter pesos e medidas tão iguais?
Sustentar o tempo e o espaço afim que possamos ficar exatamente, precisamente, parados naquele ponto da corda sem qualquer oscilação?
tão l i n e a r e s?

Ou somos mesmo este mar imenso e misterioso?

Ora tranquilo
Ora arrebatador

Ora, que horas são?

Hora de ser humano?!
Aceito no mundo como a natureza toda é.
Afinal, só se pode dá frutos na hora mesma que se dá.

Fevereiro, 2015

Dói

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Hoje me crio novamente
Essa constante criação de mim mesma.
É sempre? todo o dia? vocês que são de meus dias precisam temer não me reconhecer?
Será que eu preciso ter este mesmo medo?

Não sei, esse o risco
Perigo atravessar a rua e não saber mais quem era aquela do outro lado a quem deixei
Risco torto e desviado da existência de saber que ali na esquina pode ser o lugar que não
se volta, após ter dobrado a.

A música diz e ressoa,
ressoa e ressoa em meus ouvidos..
em minha cabeça

“Canário que muda de pena dói…..”

Meu corpo é isso hoje, dor.
Dor de músculo estendido até tremer que nem vara no vento
Dor, lateja, pulsa…
como borboleta que abra as asas após tempo gestado no casulo.

Sinto os entre ossos, os articuladores
E o sol de Recife, que ainda beira a epiderme.
Sinto o granulado entre os dentes da terra.
Tá vindo ela, povoar o sangue.
Dar nova vida

Mas ainda dói, …será que há muito que doer?

Setembro, 2014.