Tia Carolina

31 de maio de 2014
Rio de Janeiro – São Paulo

Tia Carolina

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No caos da dúvida
no inferno mental do desconhecido
há um lugar meu ai
um cantinho quente
permanente

Ali, isento os culpados
adormeço as dores com gengibre, limão e açucar queimado
acalmo a febre com batatas
clamo benções com a cruz de alecrim
massageio forte as tripas, desevirando o bucho
fico em silêncio, oro
lanços os ramos no meio fio
e retorno

O amor não é egoísta
não pode sê-lo
ele não mede
não pode ser exato, não tem segundos e nem horas
ele têm pulso
arritmia existêncial
do ser em ser
do medo de perder
do medo

ê, que ai perde
causa febre
vira o bucho
traz mal agoro
mal se olha
olha se mal
se mal, olha
olha-se, mal
Molha-se

Sinto o cheiro do alecrim
da senhora solene
do semblante terno
Agora é só lembrança
mas que muito cedo me ensinou curas cheirosas
e logo mais tarde me ensinou a dor
o peso da morte
e tudo isso ainda paira em mim
no meu caminho chei(r)o de alecrim.

Lágrimas para a terra

“Rosa é flor feminina que se dá toda e tanto que para ela só resta a alegria  de se ter dado.”

Clarice Lispector em Água Viva

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“Como flor
fui me podando.
Tal qual a asa que se desfaz do papagaio de gaiola.
fui me fazendo bonita
aos olhos de outros.
Fui podando minha selvageria, meus excessos.
me fui fazendo o que se espera.
Refiz-me no corte, para evitar esbanjamentos.
contive a vida selvagem…
canalizei meu córrego…
E aprendi a ser doente.”

Adriana Nogueira 14 de janeiro de 2014

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Na cidade há

Na cidade há muita tendência a solidão.

Para todo problema se constrói um muro.

E para cada muro que se ergue

se esvai todas as possibilidades de vida, de família.

A família, esta instituição… agora se fala até em multa.

Se multa por não fechar o portão

Tem pena, tem castigo…

Não tem olho, não tem coração

Justiça?

Qual?

O justo é o que ajusto no meu espaço

é aquilo que fica perifericamente situado na ideia de que tenho de felicidade.

Felicidade?

A anestesia pegou forte.

Não não sinto dor, não, não sinto.

Adormeci em meus sentidos, fechei a janela do quarto..

O vento só sabe é desfazer meu cabelo

Vivo no limbo, meus pés já sufocaram

As palavras só me servem como o adoçante…

Elas simulam o sabor doce,

Mas não há açúcar de verdade

Não há

haaaa

O que há?

Eu

Eu há no mundo

Os outros?

Estão lá no “há” deles

Na cidade há muita tendência para solidão

Amor em Fernando Pessoa

 

“(…)
Quando te vi amei-te já muito antes:
  

Tornei a achar-te quando te encontrei.  
Nasci pra ti antes de haver o mundo.  
Não há cousa feliz ou hora alegre  
Que eu tenha tido pela vida fora,  
Que o não fosse porque te previa,  
Porque dormias nela tu futuro.  
……………………………………………………………  
E eu soube-o só depois, quando te vi,  
E tive para mim melhor sentido,  
E o meu passado foi como uma ‘strada  
Iluminada pela frente, quando  
O carro com lanternas vira a curva  
Do caminho e já a noite é toda humana.  
……………………………………………………………  
Quando eu era pequena, sinto que eu  
Amava-te já longe, mas de longe…  
……………………………………………………………  
Amor, diz qualquer cousa que eu te sinta!  
— Compreendo-te tanto que não sinto,  
Oh coração exterior ao meu!  
Fatalidade, filha do destino  
E das leis que há no fundo deste mundo!  
Que és tu a mim que eu compreenda ao ponto  
De o sentir…? 
(…)”

Se lê mais aqui: http://www.revista.agulha.nom.br/fpesso50.html