Um elogio a caretice OU Manifesto Romântico (humano) OU Curriculum Mortis

Marc-Chagall-Birthday-1915

Um elogio a caretice Ou Manifesto Romântico (humano) Ou Curriculum Mortis

Venho através deste comunicar o meu cansaço
Sim!
Cansei minha alma de tantos cálculos e conjunturas

Insistentemente me dizem: viva o agora como se não houvesse o amanhã e muito menos o ontem.

Para mim isto nada mais é que: seja um indivíduo sem história

Se não fosse suficiente
Também são descrentes do amor

Olham-me cheios da condolência robusta de gente esperta e controlada

Ultimamente quis seguir estes caminhos
Viver o agora e o desamor

E o que me sobrou?

Um vazio
Um vazio sem fim

Era como se faltasse cem anos para coisa nenhuma

Era uma corrida interminável

Sem sentido

A grande vantagem eram as gargalhadas

Recuperei-as desavergonhadamente
Soava por vezes ridículo
Mas se o mundo podia acabar no próximo instante… qual o problema?

Mesmo assim
A felicidade que gritava alto e em bom tom não durava muito
O maxilar não aguentava ser tão feliz
Doía

E o amanhã insistia em aparecer e o ontem estava sempre ali perto da porta

E o mundo e coisas dele insistiam em querer amor

No fim, ou em algum momento, cansei de ser essa atleta burra
Afinal, se for pra correr [fugir] que seja da morte e não da vida anunciada..

Por isso eis aqui o meu manifesto:

NÃO AO “VIVER O AGORA”
NÃO A VIDA SEM SONHOS
NÃO A BANALIZAÇÃO DO AMOR
NÃO AS DISTÂNCIAS INTRANSPONÍVEIS
NÃO AOS MAL ENTENDIDOS
NÃO AOS ENSIMESMAMENTOS

tudo deu errado

Quase todas as minhas projeções, vontades e querências.

Não importa!

Minha teimosia é continuar acreditando bobamente
Minha guerra é a vida
Manter meus pulmões abastecidos
E o sangue circulando

No mais continuarei:

Boba de amor
Boba de histórias
E, principalmente,
Boba de sonhos.

Terreno úmido e ruidoso

10557218_734246823277630_5704516623230757373_n

Volto com o corpo revirado,
doído, marcado.

Viagem,
normalmente,
mexe com mente.
Este lugar de ocupação das idéias.

Recife, Pernambuco
me pegou forte.
Arrebatador, sem frescura
só cura.

O tambor ressoou fundo dentro
Batalha ganha com o pulso.
O corpo quente
Da febre, da gente
Da cana, engana?

Só sei que a raiz fincou com espaço, receosa, mas vistosa.
O medo ficou no concreto.

O gosto aveludado do rio Capibaribe, insessante, querendo ganhar a pele, o sangue.

Maracatu de esquina, beira.
Beirou a febre, tímida.

Dentro desembrulhou
Do quente, estridente, viu-se gente.

O sol acabrunhado de avenida apossou o espírito.
Vívido de carne
Foi só músculo.

Geralmente penso em osso
duro de roer
geral mente
sem sente
sente
ente
permanente
doente
ente
em te
ti
só ti

A transcendência está no é
é aqui na matéria,
no pensamento
na união
no chão
ão
trovão.

 

Recife- PE
30 de agosto de 2014