Diálogos numa manhã de segunda feira

Ao despir-me destas roupas.
Destes trajes que sempre me envolveram, desde o primeiro choro.
Me encontro corpo a corpo com um eu.

O corpo, a entidade que sou, deslizante no mundo… escapante dos contornos, das arestas, das medidas.

Um ser criado no agora, na vontade, no sentir.
Consegue dirigir seu próprio rumo.

dialogos_impossiveis_1__2013-07-25120835

-Se concentre no é da coisa.
Olhe e esteja para quem e para o que te olha.
O universo lhe trará a recompensa

-… eu não sei mais o que é o é !!

-eu acho que você não tá olhando direito… precisa purificar sua visão

-estou com medo de mim mesma…  de fazer-me , pois essa pessoa que me faz, que sou eu mesma, a mim não parece possível de se confiar, e me parece quase uma tola louca vagueando em histórias que não se pode acreditar, mas ela está lá, e eu sou a única coisa que tenho.
E me pergunto, quem é essa pessoa que sou? Posso rejeita-la assim? Vou a fundo que eu digo a mim!?

-MINHA LINDA é um processo torturozo, mas de aprendizados, seus és estão ai, por todo lado você só precisa saber olhar melhor

-… a merda é que não vou conseguir parar … eu acho!
não sei, mas que agora, não vou conseguir sair dessa sem entender algumas coisas… parece que preciso ir mais profundo
PENSO QUE REALMENTE terei que uma hora conversar um pouco sobre tudo isso!! Estou cansada de histórias mal resolvidas
dentro de mim…
vamos vendo … que que é isso que estou sentindo em mim!!

-entendo perfeitamente acho que você deve aceitar essa eu.
mais saiba que é aprendizado tudo… e pode ser dolorido

-muito provável que sim… se fosse diferente, já seria, e ainda continua: nada é! O nada é a dor mais cruel que não possa parecer

-com certeza… o nada é matéria inconsistente. Não tem forma, textura, gosto e nem vontade… não tem cor. Não inspira… só traz tristeza… vazio… é o pântano

-É a tristeza de estar triste não é ruim! Mas … Ah!! Esse pântano, não é lugar de ficar, só é de passar pra aprender a dizer tchau! Aprender a ser cada vez mais livre! Deve ser só por isso que ele insiste em existir!! Cansativo demais … não ESTA NESSE ESTADO :livre! PRECISO DE AR

-voe querida!
viva

kkkk de novo a história das asas… kkk elas não para nunca de crescer. kkk preciso me acostumar! Com esse jeito de não parar de crescer

-se acostumar com o próprio tamanho
não se diminuir…
não se encolher
expandir-se espaço a dentro
sem receio

28/04/2014

A primeira cantoria do dia

a-paz-perfeita-121065-1
“A paz invadiu o meu coração.
Num momento me encheu de paz.”

O último dia de feriado deslizou pelos prédios e ruas vazias que até então eram habitados por corpos tranquilos.
Quatro dias para uma cidade como São Paulo é com certeza humanizador.
Neste primeiro dia de retorno ao fluxo tudo é manso.
Os olhares encontram os espaços de maneira crua. De certo as lembranças dos momentos vividos pairam nos corpos pendurados no deslocamento ao ofício.
A vontade não é ir para frente. A vontade é ficar. Permanecer naqueles momentos experenciados.
A mão fecha o rosto. O rosto que não está, mas que se contrae. Talvez não foram só momentos de felicidade.
Mas a cidade demora em acordar. O corpo vivo visitou seus prazeres, suas vontades, seu tempo. E é com resistência que ele retorna.
Em torno, o giro é leve.

Em dentro as sensações transitam. Meu estado está cúmplice a estes outros meus.
Meu olhar está permeado de um sentir descolado.
Foi semana passada. Não foi pelo feriado, não foi por algo ou por alguém em específico.
Foi por um não sei o quê que me encheu.
Todas aquelas lacunas foram revolvidas. E de repente eu saquei. É melhor ser feliz do que estar certa.
Foi isso!
O tal não sei o quê. Foi isso, quer dizer, não foi, mas com certeza, por agora, pode ser.
É de tal forma que aquela palavra que todos insistem em chacoalhar quando a violência impera. Ela se apossou de mim. Mim corpo-mim-alma-mim existência.
Um bálsamo de cor e cheiro.
“A paz é muito branca”
Sim, a paz tem cor de sangue. O branco necessita de muitos decoros..

Sangue tempestuoso de gente que sai para rua.
Este movimento me pois em conversa com estas minhas veias e artérias.
Como éramos desconhecidas!

Neste possuir antropofágico
Foi me dado em conta que a conta nunca será paga.
A conta sempre terá um deficit.
E o bancário sempre estará insatisfeito. E a beleza doentia do cárcere sempre parecerá a melhor opção.

Quatro dias para São Paulo acaba amansando os bancários. No entanto já me cutuvelaram aqui no meio da costela. Já não olhei e nem fui olhada.
Foi ilusão para esta multidão irmã. No entanto, a poetisação ainda me bota em relação com tudo isso.
O bancário não me engana mais.

Um presente de uma amiga querida
Me faz dançar pelas ruas mesmo no movimento habitual de caminhar para frente.
Estes tecidos arteiros se colocam a girar e desenhar cores neste lugar desbotado.
E a sensação de aterrorizar o fluxo me é justa, assim como qualquer sorriso desmedido…

Frutas-do-Brasilimage2-620x200

Você chegou.
Invadiu, desatou.
Não abri. Desconsiderei..
mas deixei cair meu olhar em tua sombra.
E ela me pareceu leve, arteira de riso despreocupado.

Agora pela manhã me estendo pelo mundo.
Preguiçosamente a cidade vai entrando em mim,
sem tanta pressa.
Os nervos despercebem a agonia do movimento caótico urbano.

Os resquícios das promessas e declarações perduram pelo corpo.
Embora não haja corpo, em toda minha superfície há arrepios, volumes e calores nomeados e vivenciados.

Do intelecto, tão sempre comedido,
há espaço para o corpóreo.
O que há são desbundes.
São transbordamentos de excessividades.
Há tanto, para poder chegar a quase ser corpo.
Há humanidades exageradas para chegar a ser, o que não ainda pode ser.

Você entrou com o pé na porta.
Invadiu todos os cômodos.
Exibido, certo de si e de suas certezas.
Desbravador e cheio de coragem.
Desmedido nessa necessidade de tanto.

Acostumado a tanto.
Há um quê de descrença em teus próprios efeitos.
De acreditar que excessivamente causa excesso naqueles que atravessa.
Desenfreado, mais doce, cheio de sabores e cores.
Como todo amor é e sempre será.